Má-temática ou Matemágica?
Sabemos ,que para muitas crianças o ensino da Matemática é muito difícil, porém a professora Cássia ensina, como se matemática fosse u'a mágica.
Leia a reportagem retirada
do site da Conexão Professor:
01/12/10
Por Ana Paula Verly
Desde muito pequenas, as crianças se dedicam ao misterioso mundo dos números, utilizando-os nas mais diversas situações: o número do telefone, o calendário, o dinheiro, seu peso, sua altura, as velas do aniversário, o futebol etc. Com base nesses conceitos, a professora Cássia Rosana, de 30 anos, desenvolveu, em 2002, o projeto “A Matemágica do Brincar Numa Visão Interdisciplinar”. Trata-se de uma proposta de ensino dotada não só de significado formal, mas de atividades lúdicas, como jogos e desafios que trabalham a matemática de maneira contextualizada, tornando o ensino da disciplina prazeroso e eficaz.
Se interessou pelo assunto? Então confira a entrevista abaixo. “Este é um trabalho simples, porém feito com dedicação e amor”, resume Cássia, professora do Ciep 351 Ministro Salgado Filho, de Belford Roxo.
Conexão Professor (CP) - Como nasceu a ideia de desenvolver uma forma diferente de ensinar?
Cássia Rosana – No primeiro bimestre de 2002, ao realizar a avaliação bimestral, constatei que os alunos do 5º ano do Ensino Fundamental não apresentavam nenhuma motivação pela Matemática e a maioria tinha dificuldades na disciplina por não conseguir realizar as atividades propostas (geralmente uma série de exercícios transcritos do quadro para o caderno). Resolvi modificar minha prática pedagógica tornando as aulas prazerosas, atrativas e significativas, surgindo assim o projeto “Matemágica”.
No início, trabalhei com recortes de jornais e revistas, para exemplificar a presença da matemática na vida dos alunos. Depois esses recortes foram para um grande mural, onde trabalhamos em cada aula um assunto distinto. Por exemplo: com uma reportagem sobre esportes, estudamos saldo de gols e montamos expressões numéricas; já com uma receita de bolo, analisamos questões como razão e proporção. O segundo passo foi produzir textos contendo dados matemáticos. Surgiram várias historias infantis, que puderam ser representadas por tabelas e gráficos.
A aprendizagem de Matemática na sala de aula deve ser um momento de interação entre alunos e conteúdos. Para que essa interação aconteça, é necessário que os conteúdos sejam significativos e prazerosos para que os alunos possam perceber a importância da Matemática em suas vidas. Foi pensando no prazer em aprender e na magia ao brincar que inseri jogos, confeccionados pelos estudantes, nas aulas de Matemática.
CP – Estar entre os oito professores que fazem a diferença nas Américas, segundo a revista “America´s Quaterly”, representa o que para você?
Cássia Rosana – Fiquei lisonjeada ao ser indicada, pela Fundação Bunge, para representar um dos oito professores que fazem a diferença na educação das Américas. Convém ressaltar que a Fundação conhece o trabalho de muitos educadores, pois há mais de uma década analisa e premia 20 projetos anualmente. Confesso que fiquei muito feliz, afinal o título representa o reconhecimento internacional do meu trabalho. Trabalho simples, porém feito com dedicação e amor.
CP – Quais são os benefícios da Matemágica?
Cássia Rosana – O ensino totalmente tradicional da Matemática ajuda bem pouco a decifrar a informação disponível na sociedade. O projeto “Matemágica” proporciona aos alunos das séries iniciais o contato com um material concreto, além do prazer da descoberta por meio de jogos, enigmas e adivinhações. Já nas séries finais, os alunos são conduzidos a contextualizarem conteúdos e a analisarem as problematizações de forma prazerosa, significativa e eficaz.
Enquanto educadores, não devemos nos preocupar em dar tudo pronto aos alunos, mas sim em deixar que eles construam sua aprendizagem – que aprendam a aprender. Assim, a Educação Matemática cumprirá sua função pedagógica, pois irá favorecer o desenvolvimento do pensamento lógico-crítico e autonomia de seus participantes.
CP - Quando o seu trabalho ganhou notoriedade?
Cássia Rosana – Após ter desenvolvido o projeto, fui incentivada, pela orientação da escola municipal na qual trabalhava, a inscrevê-lo no Prêmio Incentivo ao Ensino Fundamental, hoje conhecido como Prêmio Professores do Brasil, desenvolvido pela Fundação Bunge, em parceria com o Ministério da Educação. O projeto foi selecionado e fiquei entre os 20 professores premiados do Brasil.
Foi uma emoção indescritível, pois em 15 de outubro de 2002 recebi, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, o certificado e o troféu Prêmio Incentivo ao Ensino Fundamental, entregues pelo então ministro da Educação Paulo Renato e pelo presidente da República Fernando Henrique Cardoso, além do prêmio de R$ 5 mil patrocinado pela Fundação Bunge.
No mesmo período, aconteceu em Brasília o 1º Seminário de Educação, no qual tive a oportunidade de expor meu trabalho para representantes da Unesco, do MEC, da Fundação Bunge e educadores. Quando retornei ao Rio de Janeiro, recebi a proposta para, em 2003, trabalhar com projetos na secretaria de Educação da prefeitura de Nova Iguaçu. Realizei oficinas capacitando cerca de 300 professores das 3ª e 4ª séries da rede municipal a trabalharem com jogos matemáticos confeccionados com sucatas.
No final de 2003 e em 2004, realizei no Iguaçu Square e no Top Shopping a I e II Expomat – exposição interativa de matemática, com trabalhos interdisciplinares dos alunos de quase 40 unidades escolares, envolvendo desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos.
Desde 2002 realizo oficinas em todo o Brasil a convite da Fundação Bunge e nas escolas do Rio de Janeiro, quando sou convidada.
CP – Quantos alunos o seu projeto já beneficiou?
Cássia Rosana – Nesses oito anos, totalizo cerca de 1.800 alunos beneficiados diretamente. Porém acredito que esse número seja bem maior, pois nas oficinas que realizo repasso a minha experiência e incentivo outros professores.
CP – Como acontece a multiplicação do “Matemágica”?
Cássia Rosana – Realizo a troca de experiências entre professores de todo o Brasil por meio da oficina “O jogo como recurso pedagógico”. No decorrer dos anos, surgiram novas ideias e outros projetos, como: Viajando na leitura através da Matemágica; Razão e Proporção, tem alguma sugestão?; Má-temática ou Matemágica?; O Ensino lúdico das equações; e Matemática Atraente. Quando trabalho com os professores, apresento sugestões e não um método a ser seguido. Por esse motivo não tenho como precisar quantos professores transformaram a Má-temática em Matemágica.
CP – Qual é o próximo passo para o aperfeiçoamento do projeto?
Cássia Rosana – Tenho muita vontade de aproveitar o material que já possuo e pesquisar novos assuntos para inovar. Quem sabe editar livros, reproduzir os jogos para a distribuição nas escolas ou até mesmo transformar o projeto “Matemágica” em um programa “Matemágica.